Quem o Demônio mais odeia dentro da Igreja?
Quem nos ajuda a
entender um pouco mais sobre esta pergunta é o Padre Jose Antonio Fortea
Cucurull, que é sacerdote e teólogo espanhol, especializado em demonologia. É
exorcista em sua diocese e muito experiente por ter sido responsável por ter
acompanhado muitos casos de reais possessões diabólicas e casos de libertações!
Em 1998 ele defendeu sua tese de Licenciatura com o tema: “O EXORCISMO na época
atual”.
A Igreja conta entre os seus membros com cardeais, bispos, diáconos,
pastores de todos os tipos, teólogos, pessoas que trabalham com a caridade,
religiosos, missionários etc. Mas o que o demônio odeia mesmo é o ASCETICISMO.
Isso nós podemos dizer com segurança, porque ninguém é tentado tanto quanto aquele
que é dedicado à ascese. Caso aquele que realize uma função eclesial ou um
ministério, leve nisso os anos que for se decide começar uma vida mais
ascética, comprovará que as tentações se multiplicam por cem. Isso se deve ao
fato de que o Maligno sabe muito bem que a ascese é uma força poderosíssima, é
à força da Cruz, e a força da Cruz quebra a influência dele no mundo.
Alguém poderia dizer que o demônio mais deveria temer é o amor
e, portanto, o que mais ele deveria odiar seriam as obras de caridade. Mas ele
sabe que àquele que inicia o caminho de ascese, se perseverar, Deus concederá o
dom da caridade em grau supremo. Entretanto, aquele que se dedica
exclusivamente a realizar as obras de caridade pode nunca chegar a uma vida
ascética.
Há pessoas que tem dedicado sua vida inteira às obras de
caridade, e, contudo, abrigam muitos defeitos em sua alma. Alguém pode dedicar
– se a ajudar os pobres e os enfermos, por exemplo, entretanto fazê-lo com
murmurações, críticas, desobediência, etc. Porém, se o asceta perseverar na
purificação gradual de sua alma, obterá todos os dons. Por isso o demônio odeia
o asceta com maior intensidade que a hierarquia eclesiástica ou mesmo aos
exorcistas. A exorcista expulsa um, dois, uma dúzia de demônios… O asceta
quebra de um modo muito mais poderoso a influência demoníaca neste mundo,
simplesmente por ostentar sobre seu corpo e seu espírito a paixão cotidiana de
sua vida crucificada.
ASCETISMO significa: doutrina que considera a disciplina e o
autocontrole do corpo e do espírito como o caminho a Deus, à verdade ou à
virtude.
A ascese é
a prática da renúncia ao prazer ou mesmo a não satisfação de algumas
necessidades primárias, é um processo de santificação pessoal, mortificação. Ascese
cristã é o esforço que fazemos para dominarmos os nossos sentidos, corrigirmos
as nossas más tendências e vivermos um processo de libertação interior. A
Igreja propõe aos fiéis como algumas das práticas ascéticas, o jejum, oração e
a abstinência, penitenciais, Louvor, Adoração ao Senhor.
Ascese, ou exercícios espirituais, ensina sobre a comunhão com
Deus. Dentro desse contexto pedagógico da mística teológica, temos o silêncio,
solidão, deserto, tentação, contemplação e o conjunto da obra clássica das três
vias: purgativa, iluminativa e unitiva. Essa é a fonte da ortodoxa
espiritualidade cristã.
A Oração de Jesus
A Oração de Jesus encontra-se no coração da tradição ascética e
mística do monaquismo contemplativo ortodoxo. Suas raízes remontam a mais alta
antiguidade cristã, particularmente, a espiritualidade dos Padres do Deserto.
Um dos elementos mais importantes de qualquer regra de oração
monástica na Igreja Ortodoxa é a “Oração de Jesus”, também denominada
simplesmente de “Oração” ou “ação espiritual”. Sua forma exterior – poderíamos
dizer, seu “material” - é a repetição com a maior frequência possível, do nome
de Jesus Cristo, associada à oração do publicano (Lc 18,14), nestes termos:
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem
piedade de mim, pecador”.
Sua essência espiritual é a “descida da inteligência ao coração”
chegando, pela purificação do pensamento e a recordação constante de Jesus
Cristo, à iluminação do homem interior pela graça divina e a tomada de
consciência da habitação mística no Espírito Santo. A prática desta oração é
uma antiga tradição muito venerável na Igreja do Oriente. Brota de uma corrente
espiritual que remonta os Padres do Deserto e é a expressão teológica do
ensinamento dos grandes pensadores cristãos dos séculos II a IV. A fonte da
teologia ascética e mística do Oriente é a riqueza do ascetismo e é urgente
conhecer e viver essa bênção espiritual!
Essa conexão da “Oração de Jesus” com o ascetismo resulta numa
intimidade profunda com Deus que faz o diabo odiar terrivelmente os ascetas na
Igreja de Deus.
Frei Inácio José do
Vale
Sociólogo em Ciência
da Religião
Professor e Doutor
em História do Cristianismo
Formador da
Congregação dos Irmãozinhos de Charles de Foucauld
E-mail:
pe.inacio.jose@gmail.com
Fontes:
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