A Ponte do Diabo de Thueyts
Igreja da cidadinha de Thueyts |
Em Ardèche, a pequena cidade de Thueyts parece muito calma. Mas essa tranquilidade esconde um terrível segredo.
Na origem dele está uma ponte muito antiga que atravessa o rio Ardèche.
Há muito tempo, um casalzinho de adolescentes de Thueyts ficou secretamente namorado. E combinaram de se encontrar numa pequena mata.
Essa mata era bonita e muito cheia de folhas, mas ficava de outro lado do rio e não havia ponte. A única solução era caminhar três léguas para cruzar pela ponte da cidade vizinha.
A solução era fatigante.
Um belo dia, o rapaz foi até o córrego e tempesteou violentamente dando fortes brados:
‒ “A quem lhe ocorreu fazer este barranco de pedra? Por acaso nós somos amaldiçoados para não termos uma ponte igual que nossos vizinhos? Não é justo!”
“O que te falta para ter a felicidade, meu maravilhoso amigo?” |
Subitamente, vindo de não se sabe onde, um curioso personagem aproximou-se do moço louco de sentimentalismo:
‒ “O que te acontece meu amigo”, sussurrou melosamente o desconhecido.
‒ “Bem, nada, apenas um desabafo” respondeu o doido de amor.
‒ “Chega disso meu jovem companheiro. Como é que um rapaz tão belo, tão forte, tão inteligente e tão esperto pode lamentar alguma coisa?”
O moço sentiu o peito estufar.
‒ “O que te falta para ter a felicidade, meu maravilhoso amigo?”, prosseguiu o singular ignoto.
‒ “Nada que tu possas fazer!”, exclamou o inexperiente.
‒ “Você acredita? Eu tenho muitos colegas que me ajudam com frequência, e nada me é impossível!” gracejou o forasteiro.
‒ “Uma ponte! Eu quero uma ponte! Aqui! Onde nós estamos! Mas, isso é uma tarefa impossível”, gemeu exasperado o jovem seduzido.
‒ “Ohhhh, só isso! Não há nada mais fácil!”
O bisonho galante não era tão bobo e percebeu que aquela figura esquisita era um enviado satânico. Mas, ele quis mostrar perspicácia e respondeu:
A ponte do conto, Thueyts |
‒ “Eu acho que você quer me pedir algo em troca, ide satanizar outro, bom homem”, disse achando ter feito um belo jogo de palavras.
‒ “Nada disso, eu só tenho vontade de vos agradar”.
‒ “O quê?” falou surpreso o jovem melado.
‒ “Agora eu tenho que partir. Já é tarde, mas eu voltarei”, murmurou o ser misterioso com voz que parecia sair de um túmulo.
Alguns dias depois, os habitantes de Thueyts descobriram uma ponte que atravessava magnificamente o rio Ardèche. Os apressados amantes foram os primeiros a testá-lo. Porém, nunca voltaram.
Desde aquele dia, o povo está convencido que os casais adolescentes que o atravessam desaparecem.
Alguns pensam no diabo. O pároco lembra sempre aos fiéis que Deus pune aqueles que alimentam amores ilegítimos.
E nas noites em que o vento bate com força, os velhos habitantes dizem ouvir os gemidos dos precitos no inferno.
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