“Eu sou o demônio, vim te matar porque você nos incomoda muito”
O relato arrepiante do assassinato do Padre Nazareno Lanciotti
Ato do Martírio Do Pe. Nazareno Lanciotti, missionário no Brasil por 30 anos
(Texto original do Ato do Martírio inalterado e sem correções)
No dia 11 de fevereiro de 2001, no recinto da sala de jantar da casa paroquial, um total de nove pessoas, a saber:
Dr. Antônio Ferdinando Aurélio de Magalhães, Dr. Laerte Petrônio de
Figueiredo, Giancarlo Della Chiesa, Isaura de Brito Giancarlo, Jorge
Moreira, Simone Coelho Filho, Alair Davi, Franca Pini e Padre Lazareno
Lanciotti.
No final do jantar, às 21h40min, deram a entrada no recinto, dois
homens encapuzados (ambos com o capuz da cor cinza escuro), e camisa de
manga longa cor preta. Um deles aparentava ter aproximadamente 1.67 de
altura, de pele morena escura, vestindo calça jeans nova, cor verde
escuro, sapato kildare, armado com uma pistola tipo 765 cromada, e o
outro tinha aproximadamente 1,70 de altura, magro, de pele moreno claro,
vestindo uma calça de brim, cor verde-escuro, sapato de camurça preto,
este empunhava um revólver cano médio calibre 38, de cor cobre
envelhecido. Imediatamente ao entrar, um deles disse que aquilo não era
nenhuma brincadeira e que eles estavam ali para um trabalho, por isso
mandou que todos cooperassem e ficassem tranquilos que ninguém se
feriria. Pediu que fossem fechadas as duas janelas que davam visão para a
rua.
Depois, o segundo indivíduos mencionados, perguntou quem era o Padre,
e o próprio se identificou, e queria saber ainda, quem era a dama que
veio de longe, e Franca Pini se identificou como tal, este indivíduo era
quem se pronunciava o tempo todo, enquanto o outro, posicionado perto
da porta, vigia a todos.
Ele queria saber onde o Padre dormia. O Padre respondeu que dormia
ali naquela mesa casa e também no seminário. O indivíduo pediu que ele
apontasse onde era o quarto e foi rapidamente verificar. Voltando ele
disse que o Padre estava mentindo, e que ele não dormia ali, porque lá
não havia roupa dele. Em seguida o indivíduo afirmou que o padre dormia
no seminário, pois na noite anterior (10/02/01), eles estiveram no local
e sabiam que o quarto dele era ali, e disse ainda: “nos íamos te pegar
ontem, mas descobrimos que você tem um guarda, pois ele funcionou uma
motocicleta dentro do seminário no momento que estávamos lá”.
O Padre explicou que no sábado, por causa de uma reunião, alguns
jovens guardavam sua moto ali, e que no seminário não tinha nenhum
guarda. Logo após o individua afirmava que o Padre tinha dois cofres
onde guardava seus valores, e afirmava também que um estava no hospital e
o outro no quarto do Padre. A Sra. Franca e o Padre Nazareno
confirmaram a afirmação. O Padre dizia que o cofre realmente existia,
mas há cerca de vinte anos, ele não sabia mais a senha, pois um
seminarista fechou o cofre com a senha dentro, e que lá só tinham
cédulas de cruzeiro e papéis sem valor. O indivíduo se irritou dizendo
que o Padre estava mentindo.
O Padre disse a ele que como no cofre não tinha nada, ele daria um
cheque de quatro mil reais e não o sustaria, e ainda que levasse o
carro.
Nesse instante o telefone tocou que era sem fio, o indivíduo se
posicionou atrás do Padre, apontando o revólver na cabeça da Franca que
estava ao seu lado e disse: “Não faça gracinha, senão acontece alguma
coisa com ela”. Na mesma hora o Padre devolveu o, dizendo que alinha
tinha caído. Em seguida o indivíduo se algumas pessoas que estavam
jantando, tinham seus quartos ali, e foi afirmado que sim. Pegaram então
as chaves dos quartos e os revistaram, voltando novamente ao recinto,
sabendo que um deles era médico, e que morava ali próximo ao recinto, o
indivíduo pegou a chave do quarto do medico para verificá-lo, e quatro
minutos depois voltou dizendo que não conseguiu abrir a porta do quarto,
e então o Dr. Laerte propôs ir junto no quarto, de onde voltaram com
cerca de mil reais.
Nesse interesse, o segundo homem ficava no recinto fazendo a guarda dos outros.
Depois disso, voltando ao recinto, o outro perguntou se alguém mais
tinha dinheiro, foram oferecidos 240 reais pela Franca, e a chave do
quarto do Sr. Giancarlo, Della Chiesa, e declarou que lá havia 800 reais
dentro do guarda-roupa. O indivíduo foi ao quarto, e voltou sem ele,
afirma o casal Giancarlo e Isaura, que pois de todo o ocorrido,
constataram que o dinheiro não foi levado. Irritado, ele dizia que não
era ladrão de pequena importância, mas sim ladrão de banco, e em seguida
jogou na mesa todo o dinheiro arrecadado. Em seguida, ele pediu
novamente a senha do cofre, dizendo ao Padre que cooperasse dando a
senha, senão ele colocaria a vida dos outros em risco. Nessa hora o
Padre levantou-se e pediu misericórdia, pois ele não sabia a senha, e
não ia colocar a vida dos outros em risco, e que se fosse matar ou ferir
alguém, que essa pessoa fosse ele.
Nesse momento o indivíduo percebeu o volume no bolso da camisa do
Padre, e o pegou perguntando-lhe o que era pedindo que o padre abrisse. O
Padre abriu a “teca” (pequeno objeto onde se guardava a Eucaristia), e
mostrou que era a Hóstia Consagrada que sobrou da visita aos doentes. O
indivíduo viu e disse que aquilo não o interessava.
Então foi proposto aos indivíduos, que levassem o cofre inteiro
dentro de qualquer um dos carros ali disponíveis, podendo ser o carro do
Padre Nazareno, o Dr. Laerte, ou do Sr. Giancarlo, e ainda levar o
cheque do Padre e todo o dinheiro arrecadado.
Após o fato o indivíduo disse que como o Padre não cooperava, estava decidido a ferir alguém, praticando a roleta russa.
Mandou que todos ficassem sentados. Nesse momento o Padre disse ser
um Sacerdote, e que não mentia, e o indivíduo se aproximou do ouvido
esquerdo do Padre e cochichou em voz muito baixa que ninguém dos
presentes pôde ouvir.
Nesse momento o Dr. Laerte, a Franca, a Isaura, a Simone, a Alair e o
Jorge, puderam ver a atitude e a feição do Padre se transformar,
demonstrando medo e desespero, levando as mãos ao rosto, abaixou a
cabeça.
O indivíduo se afastou, cochichou rapidamente com seu companheiro e começou a retirar algumas balas do tambor do revolver.
A roleta russa iniciou pela Simone, que estava sentada no meio da
mesa, depois de se deslocar para a esquerda, clicou na Alair e em
seguida, voltando para a direita, deu a volta na cabeceira da mesa,
chegando ao lado oposto onde estava o Padre na primeira cadeira, que ao
perceber o revolver em sua têmpora (visto pelo Dr. Laerte que estava em
sua frente), inclinou sua cabeça para a direita deslocando a ponta do
revolver para o pescoço onde se efetuou o disparo.
Todo o ocorrido durou aproximadamente quarenta minutos.
Atestamos e damos fé de que neste documento consta somente a verdade.
Os dois bandidos fugiram e todos se precipitaram para socorrer o Pe.
Nazareno que havia tombado à direita, amparado pela Franquina, que
estava ao seu lado.
O Padre foi rapidamente levado ao hospital, a poucos metros da casa, com
a assistência dos médicos. De lá foi transportado para Cuiabá em um
pequeno avião. Chegou a Cuiabá as duas da madrugada, depois de sofre
duas paradas cardíacas durante a viagem sendo prontamente reanimado
pelos médicos que o acompanhavam.
As seis da manhã, Pe. Celso Duca, pároco da Araputanga, ciente do
acontecido chegava de carro ao hospital. Pe. Nazareno o reconheceu e
pediu-lhe a absolvição sacramental. A convite do Pe. Celso renovou sua
consagração a Nossa Senhora, ofereceu sua vida pela paróquia, pela
Igreja, pelo Papa, pelo Movimento Sacerdotal Mariano e perdoou aos seus
assassinos.
No mesmo dia doze de fevereiro foi transportado para São Paulo, onde
ficou ate dia 22 de fevereiro. Foi assistido com muito amor pelo Bispo
de Cacéres, pelo Pe. Estefano Gobbi, pelo Otávio Piva de Albuquerque e
por todos os fiéis do Movimento Sacerdotal Mariano em São Paulo.
Não perdeu a consciência, mas ficou paralisado. Revelou ao
Padre Gobbi que o bandido, antes de atirar, havia sussurrado ao seu
ouvido estas palavras: “Eu sou o demônio… vim te matar porque você nos
incomoda muito”.
O Pe. Nazareno morreu às seis da manhã de 22 de fevereiro de 2001.
O féretro foi trazido de São Paulo a Jauru. Fez uma parada em Cuiabá
onde, às quatro da manhã de 22 de fevereiro, foi celebrada uma Santa
Missa de sufrágio, na Catedral, com a presença de muitos sacerdotes e
uma multidão de fiéis. Presidia a cerimônia Dom Bonifácio Piccininni,
Arcebispo Metropolitano de Cuiabá.
Às oito da manhã chegaram a Catedral de Cáceres, onde Dom José Vieira
de Lima celebrou outra Missa, com alguns sacerdotes e os fiéis que
lotaram a Igreja.
Às doze horas o féretro chegara de avião a Jauru onde foi recebido com
tristeza e amor pelo seu povo, que o velou em oração durante o dia e a
noite.
No dia 24 às dez da manhã, celebraram-se os funerais. Monsenhor José
Vieira de Lima presidiu a cerimônia, concelebrada por trinta sacerdotes.
O féretro, depois de um cortejo pela avenida em frente à Igreja, foi
conduzido à Matriz e sepultado ao lado direito do tabernáculo e do trono
de Nossa Senhora do Pilar.
PEQUENA BIOGRAFIA – PADRE NAZARENO LANCIOTTI – UM MÁRTIR DO TERCEIRO MILÊNIO
Era um Padre missionário, da Diocese de Roma (Itália), que tinha se
dedicado totalmente à missão no Mato Grosso (Brasil), na paróquia
missionária de Jauru.
Nasceu em Roma de uma família humilde, mas cristã, aos 3 de março/ 1940;
seu pai Giacomo Lanciotti, era pedreiro e sua mãe Antonietta dona de
casa; tinha duas irmãs: Franca e Ana Maria.
Entrou no Seminário Menor ainda criança, na cidade de Subiaco (Roma).
Cursou as faculdades de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de
Subiaco. Foi ordenado Padre no dia 29 de junho de 1966 e trabalho como
Vigário Paroquial de S. Giovanni Crisóstomo, no centro de Roma.
O seu apostolado era, sobretudo devotado para os jovens. Tendo
chegado a conhecer a Associação “Operazione Mato Grosso”, engajou-se
nela com outros jovens e tendo conseguido a licença do seu Bispo, veio
para Mato Grosso, em 1971, no ano seguinte, ou seja, em janeiro de 1972,
estabeleceu-se num “lugarejo” (naquela época) chamado Jauru, no extremo
noroeste do Brasil.
Aqui o Pe. Nazareno dedicou-se generosamente com todas as energias
para o trabalho missionário, doando-se totalmente a todos, se
interessando pelo bem espiritual e material de todo o povo. Foi com ele
que surgiu a “Paróquia de Jauru”, solicitada por ele próprio, ao Bispo
de Cáceres Dom Máximo Bienés; surgiu do “nada” uma Comunidade Cristã
viva e fervorosa; foram trinta anos de trabalho missionário, sem
descanso, porém, com muita alegria e entusiasmo, sem poupar sacrifícios e
sustentado somente pelos dois amores: a Eucaristia e Nossa Senhora.
Tinha escolhido Jauru porque era o lugar pobre e abandonado da
região; construiu para seus fiéis uma bela Igreja Matriz, um Hospital
com 50 (cinquenta) leitos um Asilo para os Idosos, uma escola
Comunitária, um Seminário que preparou para a Igreja uma dezena de
sacerdotes. Em 1988 assumiu a responsabilidade de animador do Movimento
Sacerdotal Mariano do Brasil, foi um apóstolo incansável e entusiasta,
percorreu todos os Estados do Brasil, fundado e celebrando Cenáculos de
Maria entre os Padres e as Famílias.
Em sua paróquia muito vasta com mais de 20.000 (vinte mil) fiéis,
instituiu 57 (cinquenta e sete) comunidade eclesiais rurais, instituiu a
Adoração Solene ao Santíssimo Sacramento todos os dias na Igreja
Matriz; nas comunidades instituiu 200 (duzentos) Ministros de Cultos
Eucarísticos, que guardam o Santíssimo Sacramento e promove todos os
dias com sua comunidade, o Cenáculo de Maria e distribuem a Santa
Comunhão. Os grandes cenáculos de Maria e Pe. Nazareno realizava nas
grandes cidades brasileiras, juntando dezenas e dezenas de milhares de
devotos de cada vez, fizeram reflorescer a prática frequente do
Sacramento da Penitência e reavivaram a devoção a Santa Eucaristia e a
Nossa Senhora.
Seu lema era “Coração Imaculado de Maria, confiança, saúde e vitória
minha”. A vida de Pe. Nazareno nos ensina a olhar para o futuro, cheios
de confiança e generosidade, dispostos a enfrentar tudo por amor de
Cristo, por Nossa Senhora e pela Igreja.
FONTES –
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